Ravena Carmo: Uma Alma em Versos e Lutas
- Ressocializar e Viver
- 21 de jun. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de jun. de 2023
“Sempre gosto de falar tudo que eu sou, porque lembra tudo que eu fui”, Ravena Carmo, ativista da cultura hip hop e professora de Ciências formada pela Universidade de Brasília (UnB), luta para que sua voz seja ouvida e para que suas conquistas sejam reconhecidas além de sua história pessoal. Após passar pelo Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje), onde ficou por quase três anos, ela considera como sua missão facilitar a construção da cultura hip hop no Brasil como um espaço de prevenção e reeducação de jovens marginalizados.
Aos 33 anos, Ravena atua no Sistema Socioeducativo como coordenadora do projeto Poesia nas Quebradas, que trabalha com a cultura da literatura marginal, e como fundadora do Núcleo de Estudos, Organização e Difusão de Conhecimento sobre Literatura Marginal (NEOLIM) da UnB. A artista é um testemunho vivo para a sociedade que é possível ressocializar jovens e construir novos versos para histórias silenciadas, especialmente por meio da arte e da cultura periférica.

A educadora popular morou a vida toda em Planaltina-DF com uma infância ameaçada pela violência, visto que a sua rua era um ponto de tráfico. A mãe solo de três filhos, sendo o mais velho de 12 anos, afirma que não consegue imaginar seu filho na mesma situação turbulenta em que ela viveu quando criança, já que Ravena começou a infracionar nessa idade. Por ser uma mulher em um meio violento e machista, ela achava que a todo instante precisava se provar para ser respeitada no contexto criminal, e foi nesse momento que Ravena de fato entrou em conflito com a lei.
“Eu tive uma sensação quando o crime me acolheu que eu nunca tinha sentido, esse pertencimento, um lugar que me enxergasse igual o crime me enxergou, então foi uma cilada”, as palavras de Ravena demonstram como o ambiente criminal propicia um ciclo vicioso. Iniciando no tráfico de drogas, ela passou por todas as medidas socioeducativas, chegando até a internação aos 15 anos. O Caje, na visão de Ravena, era um local hostil, desde a estrutura física até a pedagógica, e para ela uma das coisas mais marcantes foi o cheiro. Era um ambiente extremamente violento e sem muito acesso a direitos, mas Ravena encontrou nas poesias e nas oficinas de hip hop um refúgio.
Após cumprir integralmente sua medida socioeducativa em 2007, o retorno de Ravena a uma unidade de internação se deu enquanto universitária, quando ela estava cursando Ciências Naturais na Universidade de Brasília (UnB). A pedagoga conta que passou por muitas dificuldades ao iniciar o curso, devido à precária educação que teve dentro do Caje. Com vontade de reconstruir seus caminhos, Ravena desafiou os estigmas e, a partir da oportunidade oferecida por uma professora, deu início ao seu primeiro projeto voltado ao Sistema Socioeducativo, o Poesia nas Quebradas, que nasceu no campus de Planaltina.

“Inclusive, teve uma promotora que me falou que eu sou uma das poucas pessoas do Brasil que passou pelo sistema e transita dentro dele”, com quase 20 anos dentro do Sistema Socioeducativo entre interna e ativista, a educadora luta para mostrar aos jovens que a literatura é um caminho para a liberdade e para a reinvenção de suas histórias. Ravena afirma que já tentou sair do Socioeducativo diversas vezes, mas acaba sempre retornando para a área, e mesmo que ainda seja uma ferida aberta devido ao seu passado, ela demonstra paixão e comprometimento pelo que faz. Atualmente, além do Poesia nas Quebradas, a ativista coordena um projeto de pesquisa chamado Vozes e Escritas do Gueto: Trilhas e Trajetórias da Literatura Marginal no DF, que procura dar voz e representatividade à arte periférica.
Apesar de um passado conflituoso com a lei, Ravena não se resume somente a essa fração de sua história. A poeta talentosa e escritora experiente está prestes a concluir seu mestrado em políticas públicas e gestão de educação na UnB, com o tema "Liberdade cantou e agora? Egressos e políticas públicas do sistema socioeducativo no DF”, que é uma pesquisa autobiográfica, pois além de tratar das questões do sistema, perpassa por sua jornada pessoal. “O que ela faz, só ela faz”, afirma a amiga Carol, mais conhecida como “Red Lion”. Ela demonstra enorme admiração pela parceira de trabalho e de vida, que, inegavelmente, merece todo o reconhecimento que tem. Para todos a sua volta, Ravena realiza um trabalho de profunda transformação social, assim como afirma seu amigo Cristiano da Silva, “Além dela ter recuperado a vida dela, ela ajuda a recuperar novas vidas”.

Que história inspiradora! Parabéns pela iniciativa!
Vim aqui prestigiar uma das integrantes do coletivo que tenho a sorte de conhecer desde bebê e claro, pela conexão com o tema que tanto gosto. Parabéns pela iniciativa e estamos juntas por transformações no campo socioeducativo! Contem com a gente!